Como seguir dançando? Por que dançar? O que dançar?
Qual é a nossa resposta para a crueldade do mundo?
No silêncio do Tempo, rememora que aqueles que vieram antes dançaram:
"hard times require furious dancing".
Mu Ntûnda, no ventre...
Nesta casa-ventre gestar futuros.
Da partilha do íntimo fazer ecoar outras ideias, nossas vozes, outros Brasis... Okê! Xetoá!
“O importante não é a casa onde moramos. Mas onde, em nós, a casa mora.” (Avô Mariano, personagem de Mia Couto, Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra)
Ficha técnica:
Artista criadora-intérprete: Kanzelumuka
Direção de arte, colaboração dramatúrgica e operação de câmera: Murilo De Paula
Colaboração coreográfica: Marcos Buiati
Seleção musical e trilha sonora: Kanzelumuka e Giovani Di Ganzá
Voz off: Poliana Martins
Iluminação e operação de luz: Diogo Cardoso
Figurino: Éder Lopes
Apoio: Cooperativa Paulista de Teatro
Realização: Nave Gris Cia Cênica
Mu Ntûnda significa no ventre em kikongo. Ventre este que é útero, nossa primeira morada. Nestes tempos atuais, seguimos reclusos em nossas casas, que também são nossos ventres. Partilhamos por pequenas câmeras o nosso íntimo, a nossa casa, o nosso ventre. Mu Ntûnda também é fruto da experiência de gestar uma criança em recolhimento, quando esse espaço da casa potencializa-se como terreno onde se produzem e emergem memórias, afetos, ideias, perspectivas presentes e futuras, movimentos possíveis.
Esta obra, concebida coletivamente pela Nave Gris Cia Cênica e dançada por Kanzelumuka, apresenta-se como possibilidade de responder a inquietações sobre como viver num mundo que mudou. Como nasce uma dança? O que gera o dançar? Como seguir dançando na pausa? Por que dançar? Como o corpo se relaciona e ressignifica o espaço da casa? Corpo-casa. Corpo-morada. Corpo lugar de memórias inscritas. Como o corpo que gera a vida se posiciona, se movimenta, diante de tempos de morte?
A inspiração coreográfica para esta dança, inédita, se alimenta de memórias da artista Kanzelumuka, pela reatualização de imagens da sua infância: as relações com sua mãe, avó materna e seu instinto de dançar desde sempre. Na intermitência entre a gestualidade de uma coreografia pré-estabelecida e o improviso, esta obra evoca as recordações avivadas pela gestação, pelo isolamento em sua casa e por releituras de poemas e romances de Alice Walker, Conceição Evaristo, Edimilson de Almeida Pereira, Mia Couto e Abdias do Nascimento, reconhecendo nas palavras destas(es) autoras(es) o alimento para continuar a falar e mover. Da partilha do íntimo fazer ecoar outras ideias, nossas vozes, outros Brasis ... Okê! Xetoá!