Crédito: Mônica Cardim
as tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis sobre um fundo de manchas já da cor da terra
Mário Quintana
A-VÓS, dança-homenagem àqueles que nos precederam, aos pais de nossos pais e aos nossos ancestrais míticos.
Diante de uma sociedade ocupada com a satisfação imediata de seus desejos - que esquece o passado e projeta a novidade ao invés do futuro, que consome desenfreadamente e descarta sem pudores o que considera obsoleto, trazendo no próprio corpo o horror ao envelhecimento - reverenciar os “nossos velhos” vai na contracorrente e assume-se um ato estético-político.
Dançamos a sabedoria coroada por seus cabelos alvos, suas vozes e palavras que nos ajudaram a olhar o mundo e também suas mãos conhecedoras de seus ofícios. A alfaiataria, o bordado, a marcenaria, a construção civil, a música e o canto são marcas inscritas em seus corpos, na delicadeza ou na rudeza dos gestos que nos inspiraram a criar este espetáculo. Vidas-memórias dos que estão conosco e dos que vivem em nós, que nos deram colo como quem assenta chão seguro para pisar, camadas de tempo real, cíclico, espiralar que sempre retorna nas histórias ou na imagem desbotada de um retrato antigo.
A trilha dos nossos afetos mais íntimos também nos levam ao encontro dos “avós do mundo”, ancestrais que habitam o mistério e os mitos. Evocados na encruzilhada dos caminhos trilhados por cada bailarino-criador, onde o contato com os rituais funerários dos índios Bororos, com a dança butô e com as danças e narrativas dos minkisi são ressonâncias que nos serviram como chaves para a abertura de um espaço-tempo mítico. Aqui, reelaboramos nossos afetos e imaginário e nos conectamos com o que nos move no constante ato de criação do presente.
Crédito: Mônica Cardim
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Participação: Paulinho Gama e Adelita/ Crédito: Mônica Cardim
Crédito: Mônica Cardim
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Créditos: Mônica Cardim